Hoje ia deitar uma garrafa de vidro na reciclagem. As garrafas de vinho bom pesam mais que as outras? Fiquei a pensar nisso. Uma resposta possível apareceu-me aqui:
Parece haver uma relação peso-qualidade nas nossas mentes. Se fosse só em relação às garrafas de vinho e às chaves dos carros não me tinha sentado por aqui. Mas o mesmo exercício se aplica a outros teres. Quando pensamos em livros, filmes leves (para "distrair", verbozinho irritante quando por aqui passa), gente leve... é na falta de profundidade (sejamos francos... de qualidade) que pensamos.
Porque o profundo é que parece fazer sempre sentido na cabeça dos seres pensantes. E quando se dão à leveza ficam no ar, pairando, vapores de vãs futilidades.
Quando têm um novo amigo, um novo amante, querem muito filosofar, mostrar quanto já aferrolharam de belo, de sábio, de eloquente. E quando os temas vão rareando, empurrados por quotidianas premências e interesses, fica uma sensação de apoucamento.
E no entanto, cultivar a leveza tem algo de profundamente sábio. É uma aprendizagem intensiva de surf. Existir na espuma dos dias. Ver de cima e por dentro. Com o medo necessário a não arriscar demais, mas também entusiasmo, energia, atenção, equilíbrio.
Até chegar à areia em segurança.
Isto anda tudo ligado... de que é feito o vidro?
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