quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Para Sempre

"Preparar o futuro, preparação para a morte. Está certo. Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. Se ao menos uma breve ideia. Não tenho. Não é bem a vida que faz falta, só aquilo que a faz viver. Trago o carro para dentro, vou metê-lo na garagem. O carro acelera na tarde quente, a areia da alameda range. Paro, desligo o motor, um silêncio mais desértico. E um pequeno susto insinuado às coisas.»
                                                                                                                  Virgílio Ferreira, Para Sempre

Não me lembro quando o li. Era outro o tempo. Durava mais.
As tardes eram compridas. As noites faziam-se compridas. Eram horas de solidão acompanhada. Nos intervalos, estudava, dançava (quando chegou a altura), uma praia no verão... e não me lembro de muito mais. Nada de relevante...
Liam-se os russos difíceis, os franceses difíceis, os portugueses difíceis... em muitas páginas me detinha, nesse momento de suspensão em que uma qualquer frase tinha um peso que mil citações fajutas de duvidosa origem nas "redes sociais" nunca terá.
Penso que peguei em Virgílio já crescidinha, que esta prosa não é para meninos. Ou não era.  Fui agora buscar o "Para Sempre" à estante. Servem também para isto os centenários, as evocações - pegamos, relemos, olhamos o passado. 
Revisitamo-lo e àquele  livro, àquelas férias, àquele mistério, àquele prazer, àquela ingenuidade. Às vezes é desencontro. Outras confirmação. Os encantos e os olhares não são os mesmos. E ainda bem. Que novas paixões literárias sabem a desinquietação, daquela boa,  e as fidelidades não são nada para aqui chamadas.
Mas quem escreve como Virgílio Ferreira terá sempre lugar cativo, que o meu coração é uma grande estante. 





1 comentário:

  1. Tenho saudades do tempo em que lia muito mais, inclusive Vergílio Ferreira, Aquilino, Alexandre Herculano, etc.
    Mário Benrós

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