domingo, 24 de janeiro de 2016

Dos abraços que caem de bancos, lutam para neles se manterem ... ou ficam soterrados


Toda a gente sabe do meu gosto pela escrita do Padre Tolentino de Mendonça. Lê-lo é sempre um acrescento. Não só pelo que aprendo/cresço, mas também pelas portas que me abre para outros que criam, pensam, escrevem. A crónica desta semana tinha um título irresistível "Breve Introdução à Arte do Abraço". Conteúdo transbordante. Escrever por cima é tão redundante que até arranha.
E no entanto, por aqui ando. Porque, para além do mergulho nessa  "arquitetura íntima da vida" em todas as suas formas, o texto remete-nos para a existência de uma obra artística e um despojo arqueológico, em que o abraço é relevante. Fui conhecê-los e pensá-los.
A primeira é muito desafiadora - também eu me abraço em escadas e bancos e escadotes, pequenota sou... mas estes abraços introduzem grande perturbação a quem gosta da ideia de um abraço como eterno porto seguro. Há desequilíbrios, desafios, há um pé que tomba, há paridade, há força. Porque o banco é pequeno (às vezes são-no, só grande é o abraço), um vai cair... Se subir, terá o abraço a mesma força?
Gostaria de ter visto as sete fotos ao vivo. Ficar ali a analisar esta grande metáfora visual e pensar qual o momento em que o abraço foi mais forte - quando se equilibraram? Quando um estava a cair? Quando estavam fatigados de abraçar mas sabiam quem sem isso a queda era certa?
Já os amantes soterrados levam-nos para outro tipo de especulação. Dir-se-á: Coisa mais linda... nem a morte os separou e tal... Pode ser. Mas por aqui não sobra hoje espaço para a História. Eu vejo um abraço que morreu e que a arquelogia resgatou para devaneios românticos sobre o amor de há seis mil anos. E logo em Mântua, para o adocicar o enleio. Vejo vida soterrada.
É preciso estar vivo para se lutar por por bom abraço... muitas vezes. 
"This Magic moment 
So different and so new"

O Abraço - Helena Almeida (2007)
Os Amantes de Valdaro. Enterramento neolítico.(cerca de 6000 anos)



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