sábado, 21 de novembro de 2015

Retornar aonde sempre se esteve



Quem me entrevê sabe das demoradas embirrações (cada vez menos, que é um desperdício pegado determo-nos no não). Quem me conhece, regista os constantes (às vezes efémeros) maravilhamentos.
E se os maravilhamentos também forem demorados? E progressivos? E profundos?
Pois acho que foi isso que aconteceu com a (minha) cidade.
Eu cresci (vamos lá valorizar um bocadinho ter passado dos 50), a terra rejuvenesceu. E o que parece ser um fosso... foi um local de encontro.
Durante quantos anos nos limitamos a viver por aqui, pensando na próxima ida a Lisboa, lamentando a "má imprensa", o imobilismo, o "não há nada para ver", o "não há nada para fazer"? E "os restaurantes são todos feios", "os bares são só para miúdos", "não se vê o rio", "o museu da cidade está fechado", "não há uma florzinha num canteiro", "não se vê um turista", "a baixa morreu", "não há opção de ginásios", "onde estão as pessoas com dentes nas reportagens televisivas?", "não se vê «nada» de jeito" (isso continua em larga escala, não é amiguinhas?), "não há vida cultural", "tirando as praias, a Arrábida, isto não vale nada", "moro em Setúbal mas, atenção, não sou de cá!"... 
O plural não é majestático. E por isso também a vontade de escrever. É que comigo muitos vi a alegrar-se com a abertura da Casa da Baía (2011), da Casa da Cultura, da Casa da Avenida (2012). Com a reabertura do Forum Luísa Todi (2012), do Convento de Jesus (2015). Com a reabilitação/adaptação do Mercado do Livramento (2011), da Casa do Corpo Santo (2012), do Banco de Portugal e do Quartel do 11 (2013). E a criação do Parque Urbano de Albarquel (2008). E o público a emergir. E a baixa a tentar sobreviver. E as pessoas a sair de casa, tão felizes por ela serpenteando, este verão. De dia e de noite. Pois novos espaços foram abrindo. Giros. Com música. Ou não. Só com gente com vontade de estar e rir. Como o Taifa. ("Já cá faltava!" Pois, era o que mais faltava não referir especificamente um local onde tenho passado tão profundamente leves e felizes momentos.)
E há festivais de teatro, de música, e ciclos de cinema, e semanas gastronómicas, vínicas, e chegou até cá (aleluia!), ao fim de semana, a dificuldade em optar entre ir ouvir música ou  uma palestra ou ir ao teatro.
Quem está atento, usufrui. Quem está grato, agradece e rejubila.
E pensa... mas é "só" isto?
É que há algo de injusto para o espaço que sempre lá esteve, esperando, quietinho, que o abraçassem com um reconciliado e renovado olhar.
O nascer do sol visto de Albarquel.
A visão matinal do azul do rio bordejado a verde, sob a asa do avião, no jardim da beira mar.
A Praça do Bocage a silenciar-se ao lusco-fusco.
O entardecer na lota, com o colorido dos barcos em desvanecido contraste num horizonte pontuado de gaivotas.
A baía iluminada, vista de S. Filipe.
A Serra. A Mourisca. Troia. A luz pujante. O céu azul. O peixe.

De Coimbra para cá. Por cá ficarei.






Há dias comentava como me pairava um texto sobre a cidade. E logo me escreveram: "Que paire um sítio lindo, inteiro e pacífico que bem precisamos!"

CMG, eu sinto-me num sítio lindo, inteiro e pacífico. Será que o consegui demonstrar?

As fotos são quase todas do meu amigo Z Kaiseler (que fotografa a cidade muito melhor do que eu a escrevo).







4 comentários:

  1. Obrigada, Gracinha.
    Às voltinhas com formatações e sombreados e coisas dessas... mas logo aprenderei. Vou-me concentrando no conteúdo.

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  2. Conseguiste, sim, Isabel! Um aconchego de final de dia/noite de trabalho que me retorna a esses lugares, paisagens e cheiros que necessito respirar! Que bom ver (e ler!) o tal sítio lindo, a inspirar paz, inteira de corpo e alma. Um beijo, que o corpo pede descanso!

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