sexta-feira, 25 de março de 2016

Relações. Ler e teclar. Ou teclar ou ler. Ou teclar e ler. Relações.


Anda aí pelo país uma iniciativa da Porto Editora chamada "Viagem Literária". Por cá passaram Mário de Carvalho e Pedro Vieira. Desfilavam-se memórias de um e outro, vidas, carreiras...  a certa altura veio à tona a emergência da escrita  nas redes sociais, ou nos blogues, para os livros, a importância do escrever para se criar músculo para voos maiores.  
Certamente daqui não sairá romance mas foi algo em que me detive... a relação de nos sabermos lidos publicamente, ou por alguém específico que queremos impressionar ou convencer,  e a vontade de experimentar, de retornar, de burilar. O traçar ideias claras, o esgrimir bem esgalhados argumentos , a responsabilidade social de certas profissões, a isso nos impele, mas há também o gozo de ficar a dançar por ali com as palavras, vê-las contentes pela escolha feita, ou serenadas por terem encontrado o canto certo. A festa, portanto, como em tudo... 
Nunca se escreveu tanto como agora, e se esta quantidade traz dentro livrinhos espúrios ou comentários cheios de desumanidades várias e inenarráveis erros de ortografia, comporta também uma boa dose de alegria nesta contemplação de uma língua viva, a deixar-se experimentar em tantos e estimulantes formatos.
Já a leitura pede mais cuidado na apreciação e refrear no entusiasmo. Mais se partilham sugestões, gostos e desgostos, mais se interage com os escritores, mais depressa se manda vir o livro a casa, mais fácil se torna levar um calhamaço ou outro em longas viagens (sim, o papel é bom, o cheiro, tal e coiso... mas diabolizar o e-book é perda de tempo)... porém, longe vão os dias e noites de agarranço, de planar no limbo, e que lembrei um dia destes, ao evocar aqui Virgílio Ferreira. Às vezes vêm à pala de um smartphone avariado e umas tardes de sol a chamar por pessoas e jardins ou pessoas em beira-rios, pessoas fora do tempo. Fora de si e do mundo. Mergulhadas noutras eras e espaços. São dias de celebração. São dias bons que sabem a reencontro amoroso. Não é o mesmo. Mas também as amorosidades se renovam...
Não há foto da leitura em jardim ou beira mar? Pois não. Old style!