Num ecrã à minha frente esvoaçantes damas pirueteiam ao som de Strauss (há quantos anos?), a vontade de mexer é pouca, da varanda vê-se o Sado a apoucar-se, tragado já pelo oceano.
Tudo velho, portanto... Mas não há como fugir a esta construção mental do tempo - um pé no devir, outro no que foi. ("Somos feitos de tempo, lavrados instante a instante pelos seus instrumentos", escreveu Tolentino de Mendonça no último Expresso do ano)
E o que foi, foi-se por entre um dia de solitária e errante caminhada, praia incluída (e cá está um nadinha despiciendo detalhe), que a passagem propriamente dita é um fogacho iluminado a fogo de artifício.
Foi-se a parte má - dores, dinheiro, tempo, vigílias, alteração de estilo de vida. Porque não me dominou/definiu enquanto ser, porque não foi uma questão de vida ou morte, porque os efeitos passarão. E porque, não saindo do tema, não é que uma lesão/operação nos pode trazer coisas boas, aprendizagens? Porventura por agora ter acontecido (e lá está o tempo de novo) ... numa fase em que é ainda possível conciliar muito do melhor dos dois mundos - leveza e sageza andam por aqui, uma vencendo a outra em vibrante diálogo/disputa, que vibração é presença da casa. Christiane Singer, citado por Tolentino, fala da infelicidade de atravessar a vida sem perguntas e sem naufrágios... e esta é uma ideia, de facto, muito desafiante.
Apontemos, pois, baterias ao que hoje permanece do ano que partiu, já que o "tempo que nos atravessa (...) somos nós mesmos", diz o mesmo cronista.
Duas décadas de vida a dois. Memórias de Trujillho, Paris e Terceira. O retomar sofá e filmes (e o que apenso lhe vem). A consolidação de enriquecedoras e frescas amizades. O gosto pelo detalhe, pelo diferente. A avalanche musical que me volteou. A consciência do respirar, a importãncia do parar e olhar. O prazer do sorvo. Ou a tola alegria de bater palmas a quatro mãos, frente à televisão, ao som da Marcha de Radetzky.
Está tudo bem. Claramente continuo a saltar. Ainda que fotografe do chão.
Duas décadas de vida a dois. Memórias de Trujillho, Paris e Terceira. O retomar sofá e filmes (e o que apenso lhe vem). A consolidação de enriquecedoras e frescas amizades. O gosto pelo detalhe, pelo diferente. A avalanche musical que me volteou. A consciência do respirar, a importãncia do parar e olhar. O prazer do sorvo. Ou a tola alegria de bater palmas a quatro mãos, frente à televisão, ao som da Marcha de Radetzky.
Está tudo bem. Claramente continuo a saltar. Ainda que fotografe do chão.
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ResponderEliminarGosto da leveza das tuas palavras pelo peso que lhes dás, pelo equilíbrio que as balanças.
ResponderEliminarAdmiro a tua sensibilidade e os olhos que pões nas coisas, pela graciosidade com que as compões, ou pela realidade que as fotografas...
Também eu, um dia, talvez me decida a marcar as palavras que tenho engavetadas nos interiores silenciosos e as partilhe por aí...
Um abraço amigo.
Obrigada.
ResponderEliminarPartilho-as essencialmente para mim. Se der algum prazer aos outros... tanto melhor.
Como escreves tão bem e como transmites de forma tão bela a forma como vês o mundo e vives a vida! Obrigada por partilhares connosco. Beijinhos.
ResponderEliminarObrigada eu por vires manifestá-lo publicamente deste modo carinhoso, Graça.
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